Sobre

No princípio do século XXI, começaram a ser elaboradas, em diversos contextos linguísticos, conceituações teóricas cujo intuito é o de pensar a inserção, na Europa, de corpos e culturas provenientes de diversos países. Desses esforços surgiram conceitos como o de Afropea, de Léonora Miano, e de Afropeus, discutido por Alice Gbelia e Johny Pitts. De uma perspectiva pós-colonial, Léonora Miano propõe uma leitura da experiência negra na Europa, a partir de construções identitárias (Afropeidade) que assentam em múltiplas formas de pertencimento. Por sua vez, a partir do termo Afropeus, Gbelia e Pitts propõem pensar a vivência e a produção cultural de afrodescendentes nos diferentes países da Europa, através de uma dupla matriz: a experiência europeia num cotidiano marcado pela exclusão, e a africana nas realidades de proveniência dos sujeitos em trânsito, das respetivas famílias ou grupos. À luz dessas reflexões, lidas em conjunto com a tradição dos estudos da diáspora, e com as visões inovadoras em torno do conceito de afropolitanismo, o projeto propõe investigar a produção literária de autoria afro-portuguesa. Trata-se de um amplo conjunto de textos pouco explorados pela crítica, produzidos durante o século XXI por autorxs como Djaimilia Pereira de Almeida, Gisela Casimiro, Kalaf Epalanga e Ricardo Adolfo, entre outros, capazes de abalar as construções monolíticas da identidade nacional, ao mesmo tempo em que propõem outras visões da memória e da história do país. Tais escritas conjugam inovações estético-formais a demandas e urgências políticas que passam pela esfera dos direitos, da cidadania e da inclusão social. Nesse sentido, perante uma produção literária tão ampla e contundente, através da colaboração de um grupo internacional de pesquisadores, o projeto pretende desenvolver leituras críticas e chaves conceituais adequadas para pensar o debate contemporâneo sobre a experiência afropea, à luz das caraterísticas próprias do contexto português.